Manhã de Segunda Feira
Esperava o ônibus. Lá longe vinham duas luzes pequeninas. Era ele, tinha de ser.
O vento gelado da madrugada que correra por todos os lados cortava-lhe agora a face já fria. Um arrepio. Alguém se aproximava. Uma senhora que tomava à frente para entrar no ônibus que ainda não chegara. No horizonte cinzento já era possível divisar céu e terra. Um anel alaranjado começava a contornar as nuvens, mas ainda estava escuro.
Sua mente começava a criar situações enquanto o ônibus não chegava no seu ponto.
Um carro parava e de dentro uma voz pedia que entrasse. Entraria e partiria numa missão para salvar o presidente duma tentativa de homicídio.
O ônibus que estava próximo cairia num buraco deslizaria barranco abaixo livrando-o da morte certa.
A senhora que se afoitava para entrar no ônibus sofreria uma parada cardíaca e ele a levaria ao hospital mais próximo. Salvaria a vida da pobre mulher e descobriria que esta era muito rica e o recompensaria com uma quantia generosa de dinheiro.
Sentaria ao lado de uma garota diferente de todas aquelas que ele sempre via no intinerário e começaria a conversar com ela. Descobriria o amor.
Das nuvens alaranjadas surgiriam raios e deles viria uma nave gigantesca e ameaçadora que chamaria alguns dos terráqueos para conhecer tudo sobre sua espécie, e ele seria um desses.
Uma fenda gigantesca se abriria no chão e de longe viriam o quatro cavaleiros do Apocalipse. Chegava o juízo final.
Deus viria de uma das nuvens alaranjadas, pararia em sua frente e diria "Você acha que é fácil manter tudo isso de pé?"
Descobriria que pode voar ou correr na velocidade da Luz e assim começaria a ajudar o Mundo e, é claro, chegar pontualmente no serviço.
O ônibus parou exatamente em sua frente. A senhora logo se adiantou para entrar primeiro. Nada de ataque cardíaco. Nada de acidente. Subira e percebera que deveria ir de pé. Pagou a passagem e foi para o fundo. Nenhuma garota diferente.
Obseravava o já visível nascer do Sol. Nada de Deus, nem disco voador nem cavaleiros do Apocalipse. Espere! Um raio! Não, foi só imaginação.
Apesar do frio matinal o calor dentro do veículo era insuportável.
Não teve tempo para criar histórias diversas para os personagens que sempre encontrava.
Descera. Olhara no relógio. Atrasado novamente. Nada de velocidade da Luz, nada de voar.
Só mais uma manhã de segunda feira, como todas as outras...
Ouvindo Berimbau de Vinícius de Moraes e Baden Powel: "Capoeira que é bom não cai e se um dia ele cai, cai bem...Capoeira me mandou dizer que já chegou...Chegou para lutar...Berimbau me avisou...Vai ter briga de amor...Tristeza camará..."
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