sexta-feira, janeiro 27, 2006

A prosa da despedida...

Em meio a todas aquelas despedidas, dezenas de faces vermelhas e chorosas misturando alegria e tristeza, ela disse num impuslo "Desculpa!".
Ele fingiu não se sentir abalado. Na verdade ele queria mesmo que ela dissesse alguma coisa depois de tudo que acontecera. Não queria que fôsse uma mera despedida.
Ela já se desculpara vezes anteriores mas mesmo assim achava que ficava alguma pendência que ainda o deixava magoado. E ela não gostava de vê-lo magoado.
Ele não sabia o que dizer. Depois dum breve silêncio que se instaurou em meio a eles, um silêncio alheio a todos os ruídos, ele a abraçou e falou tentando esconder sem sucesso o ar melancólico da afirmação "Não precisa fazer isso! Eu já te desculpei"
Olhou em seu olhos claros, olhos que ele considerou sinceros, e a abraçou novamente. Uma abraço leve, desses que não apertam muito pra não sufocar. Sentia os cabelos e a pele macia enconstarem na face dele envolvolvendo-os naquele momento, naquele eterno segundo etéreo.
Por que não a beijou na frente de todos numa atitude frenética que habilmente selaria o fim daquela etapa em suas vidas? Por que não?
Preferiu deixar como estava.
"Desculpa mesmo assim" ela repetiu.
No início ele não compreendia os atos dela. Por que fizera aquilo com ele?
Por uma semana eles tiveram uma paixão adolescente. Ela gostava de ouvir o que ele dizia, sentia-se bem com suas declarações apaixonadas. Erro fatal que ele cometera.
Depois disso aprendeu a nunca mais exagerar seus sentimentos, como o fizera anteriormente. Aprendeu que o amor quando exagerado, tranforma-se numa torrente de lágrimas que devastam todos os outros sentimentos, e quando termina a ressaca, sobram apenas angústia e ressentimento.
O amor é um sentimento tão vasto que não pode restringir-se à uma só pessoa ou situação. Dividi-se em fases, idades, épocas e vontades. É amplo! E por sua amplitude pode-se tornar doloroso.
Por um istante, naquele olhar perdido, naquele abraço calado, ele a amava novamente. E também a perdoava.
Não se pode querer dos outros aquilo que queremos para nós mesmos.
Despediram-se.
Ele foi para um lado e ela se voltou para as caras chorosas e as faces vermelhas em tom de despedida.

Ouvindo "Conversa de Botas Batidas" com Los Hermanos...

"- Veja você onde é que o barco foi desaguar
- a gente só queria o amor...
- Deus às vezes parece se esquecer
- ai, não fala isso, por favor
Esse é só o começo do fim da nossa vida
Deixa chegar o sonho, prepara uma avenida
que a gente vai passar
- Veja você, quando é que tudo foi desabar
A gente corre pra se esconder...
- E se amar, se amar até o fim
- sem saber que o fim já vai chegar
Deixa o moço bater que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos pra um amor de tantas rugas
não ter o seu lugar

Abre a janela agora, deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
que estamos sós no céu
Abre as cortinas pra mim
que eu não me escondo de ninguém
O amor já desvendou nosso lugar
e agora esta de bem

Deixa o moço bater que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos pra um amor de tantas rugas
não ter o seu lugar

Diz quem é maior que o amor?
Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora
Vem, vamos além. Vão dizer
que a vida é passageira
Sem notar que a nossa estrela
vai cair"


Ouça a música no site do Los Hermanos...
Ou clique abaixo para ouvir...


Quem sabe da vida é ninguém...
Não faz mal...
O tom da vida é qual?
É cor?
Ou nota musical?

Abraços...