segunda-feira, janeiro 29, 2007

Suburbano

Fazia calor na cidade. Abafado.
Ele andava sem rumo pelas ruas lotadas. Pessoas e mais pessoas saindo de todos os cantos.
Negros, brancos, orientais, mulheres, homens, crianças, velhos, homossexuais, mendigos, policiais, vendedores, ilusionistas, motoristas...
De todo modo sabia que se encaixava em alguma dessas estâncias.
Andava e meditava. O som violento do centro da cidade já estava abafado em seus ouvidos.
Sentia apenas um leve zumbido que não chegava a irritar. As vozes, os gritos e as músicas eram ouvidas num volume baixo.
Olhava com atenção cada um que cruzava seu caminho. Olhos grandes, olhos pequenos, cabelo longo, curto.
Tão diferentes, montavam aquela mistura.
E olhava para cima e via os prédios escodendo o céu, que de azul virara cinza.
Como se saísse dum feitiço, todos os sons voltaram, todas as vozes, buzinas e sirenes e um grito:
"Ladrão!"
Então reparou que não andava, e sim corria. E a mulher continuava "Ladrão!"
De tão abafado o tempo, começou a chover.
E ele corria e a mulher gritava. Sentiu uma dor nas costas. Alvo do primeiro tiro.
Continuou a correr. O coração batia acelerado.
E certeiro, outro tiro o derrubou.
O zumbido começava a voltar, as vozes diminuíam.
Caído, olhando para cima, via as gotas.
O zumbido sumia levemente junto com as vozes.
Um círculo formou-se em volta de seu corpo.
Olhara para o céu pela última vez. Já não era cinza, tampouco azul
Era sim, de um violento carmim.