Rituais
Pego mochila, bilhete único, chave, carteira e saio. De porta ainda aberta aperto o botão do elevador para dar tempo de fechá-la e esperá-lo.
Entro. Desço. Homem entra no quinto andar.
"Bom dia" digo.
"Bom dia" diz o homem que completa numa fúria cotidiana "Cacete! Tenho que ir lá pra Paulista só pra trocar um cartão"
"É" concorda num suspiro sutil expressando sua conformidade para com os fatos. Quantas vezes não tive que ir a lugares mais longes por coisas tão supérfulas quanto um cartão? Cartão de banco, supus. Coisa muito útil para muita gente nos dias de hoje. Inclusive para mim e para o homem do elevador, supus novamente.
Momentos sufocantes esses de elevador. Alívio. Chega o térreo que é o primeiro andar.
Homem vai por um lado (o lado dos carros) e se despede com um "Até". Eu vou para o outro portão. Antes de entrar na condução, já nos degraus de entrada, o veículo andando. Lembro-me "Celular".
Desço. Volto para o prédio. Apressado, perdi muitos minutos. Mas nada comparado à desolação que sentiria sem tamanho pequeno aparelho. Sem horas, sem poder ser encontrado. Terrível!
Quanta besteira, meu Deus!
Volto para ele mesmo assim.
Subida de elevador. Entro. Lá está. Quieto. Morto. Num canto.
Pego, coloco no bolso. Suspiro de alívio.
O mesmo ritual. Aperto o botão para chamar o elevador enquanto fecho a porta.
Entro. Desço.
Quinto andar. Homem, o mesmo homem, entra.
"Opa!" ele diz e completa com mais uma de suas fúrias cotidianas "Cacete! esqueci o celular, acredita?"
"Eu também" digo demostrando enorme euforia com um largo sorriso em face à coincidência, mas que logo se apaga tendo em vista a inócua reciprocidade para tal.
"Foda" arremata o homem não mais numa fúria, mas num próprio cotidiano.
"É" falo para mim mesmo.
Saímos. Ele vai pro mesmo lado de antes, e eu vou para o meu.
Demora na espera da condução.
E vou embora pensando em cotidianos, fúrias, tecnologias, coincidências e amizades impossíveis.
Entro. Desço. Homem entra no quinto andar.
"Bom dia" digo.
"Bom dia" diz o homem que completa numa fúria cotidiana "Cacete! Tenho que ir lá pra Paulista só pra trocar um cartão"
"É" concorda num suspiro sutil expressando sua conformidade para com os fatos. Quantas vezes não tive que ir a lugares mais longes por coisas tão supérfulas quanto um cartão? Cartão de banco, supus. Coisa muito útil para muita gente nos dias de hoje. Inclusive para mim e para o homem do elevador, supus novamente.
Momentos sufocantes esses de elevador. Alívio. Chega o térreo que é o primeiro andar.
Homem vai por um lado (o lado dos carros) e se despede com um "Até". Eu vou para o outro portão. Antes de entrar na condução, já nos degraus de entrada, o veículo andando. Lembro-me "Celular".
Desço. Volto para o prédio. Apressado, perdi muitos minutos. Mas nada comparado à desolação que sentiria sem tamanho pequeno aparelho. Sem horas, sem poder ser encontrado. Terrível!
Quanta besteira, meu Deus!
Volto para ele mesmo assim.
Subida de elevador. Entro. Lá está. Quieto. Morto. Num canto.
Pego, coloco no bolso. Suspiro de alívio.
O mesmo ritual. Aperto o botão para chamar o elevador enquanto fecho a porta.
Entro. Desço.
Quinto andar. Homem, o mesmo homem, entra.
"Opa!" ele diz e completa com mais uma de suas fúrias cotidianas "Cacete! esqueci o celular, acredita?"
"Eu também" digo demostrando enorme euforia com um largo sorriso em face à coincidência, mas que logo se apaga tendo em vista a inócua reciprocidade para tal.
"Foda" arremata o homem não mais numa fúria, mas num próprio cotidiano.
"É" falo para mim mesmo.
Saímos. Ele vai pro mesmo lado de antes, e eu vou para o meu.
Demora na espera da condução.
E vou embora pensando em cotidianos, fúrias, tecnologias, coincidências e amizades impossíveis.
Ouvindo "Ritual" de Cazuza:
Ao mesmo Deus que ensina a prazo
Ao mais esperto e ao mais otário
Que o amor na prática é sempre ao contrário
Que o amor na prática é sempre ao contrário
Ah, pra que chorar
A vida é bela e cruel, despida
Tão desprevenida e exata
Que um dia acaba...
...e "Leve" de Chico:
Pense que eu cheguei de leve
Machuquei você de leve
E me retirei com pés de lã
Sei que o seu caminho amanhã
Será tudo de bom
Mas não me leve...
Pense que eu cheguei de leve
Machuquei você de leve
E me retirei com pés de lã
Sei que o seu caminho amanhã
Será tudo de bom
Mas não me leve...
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