Frágil
Entrou no ônibus. Manhã fria.
Seguia apreciando a paisagem, como era de costume, porém topava com o emprecilho da janela embassada pela respiração dos muitos passageiros. Quase chegando no ponto final, um senhor vestido de terno senta ao seu lado.
Num súbito lance abre a janela e diz "Sabe do surto de tuberculose não?"
"Ouvi dizer" mas não ouvira.
"O povo toda manhã reclama que eu abro a janela"
"Imagino" dizia ao sentir o vento frio bater no rosto.
"Mas não me importo! Prefiro sentir friozinho do que ir pro caxãozinho" disse o senhor em tom bem humorado.
Concordou sem muito ânimo, fato que colaboria para o fim da conversa, que nãoa conteceu.
"E imagina a gripe aviária... Saiu um estudo... Numa revista... A gripe está prevista para chegar em setembro por aqui..."
"É mesmo?" disse pouco espantado. Como alguém pode calcular a previsão de chegada de um vírus num país? "Loucura" pensava "Esse cara já tá querendo demais"
"É bom já ir se cuidando" completou o senhor.
Desceu do ônibus sem fazer muita questão de esperar pelo velho da tuberculose.
Antes de pegar o metrô, pôde vê-lo sentado num banco conversando com uma mulher. Pobre vítima. Devia estar falando do quanto as pessoas devem ter mais cuidado ao fazer isso ou aquilo.
Ele nunca soube, mas duas semanas depois o senhor veio a falecer. Se alguém lhe contasse, diria na primeira chance "Foi tuberculose, não?"
Mesmo sendo um grande ironia lhe responderiam que não. Era cancêr. Desces que vão crescendo, crescendo e num belo dia explodem e dão somente alguns meses de vida à pessoa.
Se soubesse, talvez seria mais compreensível com o velho.
Talvez suspeitaria que toda aquela preocupação com os outros não seria só neurose.
Se soubesse talvez, abriria todas as janelas de todos os ônibus em todas as manhãs.
Se soubesse, é claro, mas não soube.
Seguia apreciando a paisagem, como era de costume, porém topava com o emprecilho da janela embassada pela respiração dos muitos passageiros. Quase chegando no ponto final, um senhor vestido de terno senta ao seu lado.
Num súbito lance abre a janela e diz "Sabe do surto de tuberculose não?"
"Ouvi dizer" mas não ouvira.
"O povo toda manhã reclama que eu abro a janela"
"Imagino" dizia ao sentir o vento frio bater no rosto.
"Mas não me importo! Prefiro sentir friozinho do que ir pro caxãozinho" disse o senhor em tom bem humorado.
Concordou sem muito ânimo, fato que colaboria para o fim da conversa, que nãoa conteceu.
"E imagina a gripe aviária... Saiu um estudo... Numa revista... A gripe está prevista para chegar em setembro por aqui..."
"É mesmo?" disse pouco espantado. Como alguém pode calcular a previsão de chegada de um vírus num país? "Loucura" pensava "Esse cara já tá querendo demais"
"É bom já ir se cuidando" completou o senhor.
Desceu do ônibus sem fazer muita questão de esperar pelo velho da tuberculose.
Antes de pegar o metrô, pôde vê-lo sentado num banco conversando com uma mulher. Pobre vítima. Devia estar falando do quanto as pessoas devem ter mais cuidado ao fazer isso ou aquilo.
Ele nunca soube, mas duas semanas depois o senhor veio a falecer. Se alguém lhe contasse, diria na primeira chance "Foi tuberculose, não?"
Mesmo sendo um grande ironia lhe responderiam que não. Era cancêr. Desces que vão crescendo, crescendo e num belo dia explodem e dão somente alguns meses de vida à pessoa.
Se soubesse, talvez seria mais compreensível com o velho.
Talvez suspeitaria que toda aquela preocupação com os outros não seria só neurose.
Se soubesse talvez, abriria todas as janelas de todos os ônibus em todas as manhãs.
Se soubesse, é claro, mas não soube.
<< Página inicial