segunda-feira, janeiro 29, 2007

Suburbano

Fazia calor na cidade. Abafado.
Ele andava sem rumo pelas ruas lotadas. Pessoas e mais pessoas saindo de todos os cantos.
Negros, brancos, orientais, mulheres, homens, crianças, velhos, homossexuais, mendigos, policiais, vendedores, ilusionistas, motoristas...
De todo modo sabia que se encaixava em alguma dessas estâncias.
Andava e meditava. O som violento do centro da cidade já estava abafado em seus ouvidos.
Sentia apenas um leve zumbido que não chegava a irritar. As vozes, os gritos e as músicas eram ouvidas num volume baixo.
Olhava com atenção cada um que cruzava seu caminho. Olhos grandes, olhos pequenos, cabelo longo, curto.
Tão diferentes, montavam aquela mistura.
E olhava para cima e via os prédios escodendo o céu, que de azul virara cinza.
Como se saísse dum feitiço, todos os sons voltaram, todas as vozes, buzinas e sirenes e um grito:
"Ladrão!"
Então reparou que não andava, e sim corria. E a mulher continuava "Ladrão!"
De tão abafado o tempo, começou a chover.
E ele corria e a mulher gritava. Sentiu uma dor nas costas. Alvo do primeiro tiro.
Continuou a correr. O coração batia acelerado.
E certeiro, outro tiro o derrubou.
O zumbido começava a voltar, as vozes diminuíam.
Caído, olhando para cima, via as gotas.
O zumbido sumia levemente junto com as vozes.
Um círculo formou-se em volta de seu corpo.
Olhara para o céu pela última vez. Já não era cinza, tampouco azul
Era sim, de um violento carmim.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Ê, cazzo!

É...
Talvez as mídias estejam mudando.
Blogs, por exemplo. Palavras jogadas ao vento. Alguns pegam aqui outros lá.
Como uma mensagem numa garrafa jogada no oceano.
Posso dizer que blogs já estão ultrapassados. Aquilo que ontem era o quê de mais moderno, hoje é parte de algo maior.
Hoje está tudo engolido numa só massa azul, branca e cinza chamada internet.
Como um celular, que hoje em dia o acessório mais banal é fazer ligações.
Mero detalhe o fato de que celular e internet já estão praticamente empapados nesse mesmo conjunto. Por esse motivo torna-se para mim estranho sentar aqui e escrever um texto.
Literário. Algo que há pouco tempo fazia com facilidade. Bom ou ruim, mas fazia.
Hoje, tenho uma idéia, sento-me em frente ao computador e quando começo a colocar em prática. As coisas somem. Não por medo de quem vai ler.
Justamente pelo fato de que ninguém vai ler. Dessa massa que fazemos parte, não há porque ler.
Ficará registrado só para mim. O que já é um trunfo. Desse modo, será mais fácil escrever num pedaço de papel e guardar num baú, como fazia antes de surgir a coisa branca, azul e cinza.
Expressar o que sinto, para mim já não é tão viável.
Num blog. Blog? 40.000 blogs são criados por dia...
Só mais um na multidão...
Daí bate a vontade de fechar isso aqui por um tempo. Só pra não admitir esse bloqueio criativo que passa por mim. Se é que algum dia já fui portador de qualquer criatividade.
Para isso servem os blogs, não?
Descrever, desabafar.
Coisa mais banal.
Façamos um acordo. Se você leu até aqui é porque se importa.
Façamos. Vou escrever pouco daqui pra frente. Nada muito pretensioso.
Vou escrever sem compromisso. Prosa ou poesia. Tanto faz.
Nada que te canse, ou que te faça lacrimejar por olhar muito tempo para o monitor.
Postarei poemas alheios também, de amigos e/ou poetas.
Recitarei algumas coisas.
Êta mesquinharia.
80% d apopulação nunca mexeu num computador, e eu aqui me preocupando em o que postar.
Vá pro diabo, massa azulbracinza, que quero ficar um tempo sem te ver.
Mas é difícl.
Se você leu até aqui, você realmente se importa.
Ponto. Serei mais irreverente ao postar. E breve. Para não cansar.

Abraços!

domingo, janeiro 07, 2007

Apelo próprio ou Enlameado ou Apelo contra a mediocridade

-para o autor

Ao saber do silêncio
ao se fazer silente
calando-se
você morre

por dentro
corrói-se

torna-se parte dessa
lama suja e podre
e que você aceita

aceita e bebe da mesma
come da mesma
vive na mesma

Sentindo-se lama
você é lama

Lamenta
Lamento

Lamentemos

Essa mesma lama que o torna feliz agora
será cabo do infeliz do futuro
Levante

A lama em que você agora se banha
são para os porcos que já nela se fundiram
e assim te querem, te desquerem

Acorde!


Ouvindo "Contato Imediato" de Arnaldo Antunes:

"Peço por favor
Se alguém de longe me escutar
Que venha aqui pra me buscar
Me leve para passear

No seu disco voador
Como um enorme carrossel
Atravessando o azul do céu
Até pousar no meu quintal..."


Ouça aqui, ou assita aqui!