quarta-feira, maio 25, 2005

Despoetado


Pra ser poeta
é preciso despoetar
Deixar de ser poeta
Olhar o mundo como todos
depois ficar deprimido
e escrever,
daí sim
Poetar!

Triste é despoetar
Difícil é deixar de ser despoeta
Perdi os rumos deste poema
Despoetei-me tanto que
deixei de ser poeta

Por que poeta que é poeta
busca o sentido do amor?
Nenhum poeta aprendeu a amar
Poetas observam
Poetas poetam

Só é poeta aquele que poeta e despoeta
Só é poeta aquele que corre no lápis um lamento
sobre a pétala que inevitavelmente se soltou da flor
Poética

Para poetar é preciso entender que rumando para frente
estamos rumando para a morte
para a morte despoetada

Quero que todas a mortes tenhm poesia
Poetêmo-nos, despoetas!

Dêmo-nos as mãos e vamos sair,
pra ver o Sol...

Ah! Que vontade de chorar...


Ouvindo Maria Bethânia - Que Falta Você Me Faz - Músicas de Vinícius de Moraes...

segunda-feira, maio 23, 2005

Mudar...

Quero mudar
pra melhor...
Vida, marasmo, sono,
mesmo, mesmo...
Claro,
isso também foi desculpa
para fazer esse jogo de letras...

Até...


Ouvindo - Triste, com João Gilberto: "Triste é viver na solidão... Na dor cruel de uma paixão... Triste é saber que ninguém pode viver de ilusão..."

sexta-feira, maio 13, 2005

Num Jogo de Xadrez

Em algum lugar distante de Minas Gerais, Carlos
e Fernando jogavam xadrez.
Todo aquele jogo estratégico e demorado faria qualquer um dormir nos três primeiros lances, já que cada jogador, bastante experientes, por sinal, demoravam longos minutos até que o parceiro pudesse revidar o passe.
Passadas algumas horas, sem que nenhum murmurasse um só som de exaustão ou fadiga, diante do canto dos pássaros, da imensidão do castanheiro que lhes fazia sombra e do cascatear da água dum riacho que alí corria próximo, Fernando sussurrou para o amigo:
"Que bela jogada, Carlos."
"Eu venho estudando esta desde meu último jogo com o Manuel, no qual e perdi, aliás." respondeu.
"E por falar nele, por onde anda o pequeno?"
"Foi-se embora."
"Para onde?"
"Pasárgada, eu creio... Dizem que lá ele é amigo do Rei..."
"É...Ouvi falar" voltou a fitar o tabuleiro e reclamou "Ora, Carlos! Não há escapatória! Se pulo para a direita os peões me pegam, se vou para o meio me atacam de ambos os lados e se vou pra esquerda fico na mesma. Não vale a pena..."
"Tudo vale a pena..."
"Se a alma não é pequena... Sim! Sim! Essa eu conheço bem..."
"Então"
Fernando foi para a esquerda. Perdeu seu cavalo. Interpelou:
"Nunca mais faço uma dessas..."
"Nunca mais" retribuíu Carlos "Isso me lembra um amigo seu..."
"O Edgar? Pois é... Grande figura!"
"Por onde anda?"
"Da última vez que o vi me contou umas histórias... Disse que estava uma vez lendo em sua biblioteca quando ouviu o que parecia o som de algúem que batia levemente a seus portais. Era uma visita que estava batendo aos seus umbrais."
"E então?" perguntou Carlos curioso.
"É só isto, e nada mais."
"Não tinha uma ave nessa história? E quando mais você o viu?"
"Nunca mais..." Fernando resignou-se a responder.
"Nunca mais" Assentiu Carlos e depois lembrou "Sua vez..."
"Olhe... Uma flor nasceu..."
"Onde?" Interessou-se Carlos virando para trás.
Fernando trocou algumas pedras do tabuleiro.
"Alí... Atrás daquele tronco, perto do riacho!"
"Deve estar ficando louco..." Disse balançando a cabeça...
"Garanto que uma flor nasceu. É feia. Mas é realmente uma flor."
"Entendo" voltou a fitar o tabuleiro. A grossa armação trazia dois pequenos olhos castanhos que se arregalaram. De súbito, Carlos, com o bispo, comeu o cavalo de Fernando, e logo em seguida comeria mais três peões.
"Mas é um absurdo" Reclamou Fernando.
"Questão de técnica" Respondeu Carlos calmamente como todo bom mineiro, e ainda sugeriu que Fernando deveria parar de jogar consigo mesmo, já que não aprendia novas jogadas, e ele respondeu como se tivesse ouvido a pior coisa do mundo:
"Mas veja bem, meu amigo. Ricardo joga como ninguém, Álvaro tem lá suas agonias e é um tanto apressado mas já ganhou de mim algumas vezes. Pena Alberto não saber jogar, aliás, nem se preocupa em." E como se o assunto alí tivesse terminado por completo Fernando perguntou "E aquele seu amigo, o Mário?"
"O Desvairado?"
"Esse mesmo. Que fim levou o sujeito?"
"Acho que foi pra Pernambuco e pulou na Venezuela para então se embrenhar no meio do mato amazônico." pensativo, olhando para o céu "Subiu num cipó e foi parar nas estrelas. Deve ter virado um desses astros que ainda brilham mesmo quando Vei invade a noite com suas luzes"
"Cheque" Jogou Fernando sem exaltações.
"Mas como?" Pasmou Carlos.
"Questão de técnica, meu amigo, técnica." Zombou.
Mineiro que era, Carlos aceitou a derrota, cumprimentou o adversário e o chamou para apreciar o poente.
Juntos se emocionaram enquanto os raios solares alaranjados mesclavam-se às nuvens, às montanhas e aos corações dos dois amigos.
A noite começava a invadir o dia. O castanheiro, o riacho, o tabuleiro sumiam diante da escuridão. Lá longe ainda era possível distinguir pequenas casinhas que acendiam suas fracas luminárias incadescentes. E junto com o dia, Carlos e Fernando iam desaparendo, desaparecendo, até se tornarem uma leve bruma que logo foi dissipada pelo ar.
Pôde-se ouvir a fraca voz de Carlos dizendo
"Eta vida besta, meu Deus" e Fernando complementou
"As coisas não têm significação, Carlos, têm existência. As coisas são o único sentido oculto das coisas!"
Após toda aquela cena pitoresca sumiram. Mas voltariam. Voltariam com outros. Sempre estariam alí. No ar, no riacho, no tabuleiro, no castanheiro, nas coisas. Sempre estariam. Sempre estarão.
Eles estão...



terça-feira, maio 03, 2005

Além do Travesseiro

Colocava exausto a cabeça no travesseiro e esperava uns minutos.
Adormecia e acordava do outro lado. E lá começava um novo dia.
Porém lá tudo era mais etéril, mais efêmero e um tanto difuso. Quando lá lhe perguntavam como tinha sido a noite, ele respondia que que tinha sido terrível.
Os pesadelos não paravam.
Lá dizia que todas as noites sonhava com um mundo em que as pessoas se preocupavam demais com as coisas, que não tinham tempo pra nada e que não queriam amar...
Os amigos consolavam. Diziam que um dia estes pesadelos acabariam.
Mas não acabavam.
Lá teve um bom dia. Conversou com os seus colegas, discutiu a existência de mundos paralelos, comeu frutos tirados diretos do pé, amou a mulher que amava, tomou banho num límpido riacho e aproveitou o ócio da tarde.
Enquanto apreciava numa rede a tênue claridade crepuscular chochilou por alguns intantes lá e acordou aqui.
Olhou para o relógio e viu que ainda lhe faltavam algumas horas. Voltou a dormir e acordou na rede quando já estava escuro.
Aproveitou as últimas horas da melhor maneira que lhe cabia. Colocou levemente a cabeça no travesseiro. Adromeceu.
Quando os amigos lhe perguntaram como foi a noite.
Respondeu que preferia não ter acordado.

Eu sempre achei que quando a gente dorme vai pra outra dimensão... E que lá é a realidade e aqui é o pesadelo... Isso é muito Sartre...

Obs: Não, eu não estou depressivo, mas esse mundo me cansa às vezes...

Ouvindo "Parafuso" da "Orquestra Popular de Câmara"...