Outro ônibus.
Há sempre regras de como se comportar nos coletivos, dentre essas regras há normas que dependem em cada caso. São coisas simples que vão desde segurar a sacola pesada de alguém que está em pé até xingar educamentente a pessoa que sem razão qualquer deu um pisão no seu tão indefeso e inocente pé.
São, geralmente, os mesmos tipos de seres humanos que pegam ônibus. Dentre estes seres, há uma gama que vai se dividindo, tornando-os únicos a cada viagem. Há desde a mulher gorda, a qual pensam que está grávida e dão lugar para que ela sente, até o velhinho que já beira os portões celestiais e que se recusa a sentar a todo custo só para dar lugar à jovem que está ao seu lado e atrai a atenção de muitos passageiros, seja por interesse, seja por inveja. Sempre hão de coexistir a mulher encrenqueira e o trabalhador revoltado com a política. Ambos vêm no mesmo pacote e exclamam seus verbos quase que ao mesmo tempo à primeira freada brusca, só que em direções diferentes. A mulher xinga o pobre do motorista que não pôde fazer nada para evitar que aquele carro, o qual o preço está a milhares anos luz da sua carteira, entre bruscamente na frente do ônibus, enquanto o homem começa a reclamar da política dizendo que em determinada época tais coisas eram melhores, independente de quem seja o governante. Juntos eles agregam aliados, que logo se separam assim que um ou outro desce do ônibus ou então começam a discutir sobre outra coisa dentro ou ao redor do veículo.
Dentro de coletivos não há o conceito de educação. Quando algum passageiro chama o outro de mal educado, este abre uma fenda no espaço-tempo contínuo, já que tal ornamento xingatório é considerado um paradoxo maior do que acender um fósforo dentro dum lago na Antártida e ainda assar uma picanha para o jantar da sexta-feira santa. Todos, num ônibus, em qualquer situação, são mal educados, tornando-os assim todos pessoas educadas. Uma cotovelada no rim direito é quase sinônimo de "Com licença, minha senhora, seria um incômodo se eu pudesse passar por aqui?" ao cabo que a cotovelada no rim esquerdo do primeiro seria claro sinônimo de "Claro, meu bom homem, sinta-se a vontade!" seguido da pisada no pé referente ao cordial "Muito obrigado, jovem dama." finalizando a passagem com o chute na canela traduzido como "Não seja por isso!"
Há uma séria divisão dentro dos ônibus. Fato que me preocupa vez em quando. Se há algo que pode interferir na harmonia dos coletivos, essa coisa é o fato de haver pessoas sentadas e pessoas de pé. Sou franco defensor de qualquer lei que defina que, nos ônibus, as pessoas devem estar, ou totalmente sentadas ou totalmente de pé. Estar sentado gera a indiferença. O fato de estar sentado anula os problemas dos arredores. Estar em pé, gera a inveja. Ambos sentimentos levam à discórdia. Não há discórdia entre membros sentados e mebros de pé, mas sim a discórdia dos próprios membros de pé que, ao invés de lutarem juntos por uma solução viável e que venha a curto prazo, digladiam-se entre si para tomarem o lugar do primeiro que deixa o assento vago.
Certa feita, eu, como bom usuário dos coletivos, entrei no ônibus notando que não havia mais lugar disponível para me sentar e me anestesiar no mar da indiferença. Não poderia ler um livro, ouvir música ou muito menos dormir. Afoito para fazer tudo isso, resolvi entrar na guerra pelo assento. Atento, percebi os principais suspeitos que desceriam em breve do veículo. Foquei meus olhos para perto da porta de saída, local comum para quem desce logo. Não havia ninguém que eu já conhecesse de vista e, devido a viagens anteriores, sabberia previamente que desceria em poucos minutos. Percebi uma garotinha e a mãe da mesma. Bingo! Essas não demoram muito dentro de ônibus. Cheguei perto, o assento seria meu assim que elas descessem. Uma senhora chegou ao meu lado. Não reclamei, uma vez que eram duas passageiras que desceriam. Haveria lugar para ambos. Solidarizei-me com a senhora e até pensava em conceder-lhe o lugar à janela.
A mãe olha para a senhora e pede para a filha sentar em seu colo, dando lugar para a primeira. Ainda não era um problema. A senhora sentaria e logo seria minha vez.
Não seria um problema até o momento em que a mãe disse "Senta aqui, senhora. A gente já vai descer logo."
Como um relâmpago, sem nem que a senhora tivesse sentado, uma mulher que beirava seus quarenta anos chegou ao meu lado ocupando o lugar onde a velhinha estava de pé. Não só ocupando como também me empurrando com o braço, tirando-me da minha posição original. Aquele braço na minha frente, me afastando, como se eu fôsse um incômodo.
Ainda tinha certa gota de esperança, mas esta secou assim que mãe e filha desceram do assento e a mulher-braço conseguiu realizar seu intento oferencendo-se ainda para segurar minha mochila, a qual sempre deixo no chão para que não peçam para segurar.
Descobre-se que ainda temos muito a aprender com a vida, mas ainda sonho que um dia, todos poderão sentar-se nos ônibus, sem distinção ou preconceito.
São, geralmente, os mesmos tipos de seres humanos que pegam ônibus. Dentre estes seres, há uma gama que vai se dividindo, tornando-os únicos a cada viagem. Há desde a mulher gorda, a qual pensam que está grávida e dão lugar para que ela sente, até o velhinho que já beira os portões celestiais e que se recusa a sentar a todo custo só para dar lugar à jovem que está ao seu lado e atrai a atenção de muitos passageiros, seja por interesse, seja por inveja. Sempre hão de coexistir a mulher encrenqueira e o trabalhador revoltado com a política. Ambos vêm no mesmo pacote e exclamam seus verbos quase que ao mesmo tempo à primeira freada brusca, só que em direções diferentes. A mulher xinga o pobre do motorista que não pôde fazer nada para evitar que aquele carro, o qual o preço está a milhares anos luz da sua carteira, entre bruscamente na frente do ônibus, enquanto o homem começa a reclamar da política dizendo que em determinada época tais coisas eram melhores, independente de quem seja o governante. Juntos eles agregam aliados, que logo se separam assim que um ou outro desce do ônibus ou então começam a discutir sobre outra coisa dentro ou ao redor do veículo.
Dentro de coletivos não há o conceito de educação. Quando algum passageiro chama o outro de mal educado, este abre uma fenda no espaço-tempo contínuo, já que tal ornamento xingatório é considerado um paradoxo maior do que acender um fósforo dentro dum lago na Antártida e ainda assar uma picanha para o jantar da sexta-feira santa. Todos, num ônibus, em qualquer situação, são mal educados, tornando-os assim todos pessoas educadas. Uma cotovelada no rim direito é quase sinônimo de "Com licença, minha senhora, seria um incômodo se eu pudesse passar por aqui?" ao cabo que a cotovelada no rim esquerdo do primeiro seria claro sinônimo de "Claro, meu bom homem, sinta-se a vontade!" seguido da pisada no pé referente ao cordial "Muito obrigado, jovem dama." finalizando a passagem com o chute na canela traduzido como "Não seja por isso!"
Há uma séria divisão dentro dos ônibus. Fato que me preocupa vez em quando. Se há algo que pode interferir na harmonia dos coletivos, essa coisa é o fato de haver pessoas sentadas e pessoas de pé. Sou franco defensor de qualquer lei que defina que, nos ônibus, as pessoas devem estar, ou totalmente sentadas ou totalmente de pé. Estar sentado gera a indiferença. O fato de estar sentado anula os problemas dos arredores. Estar em pé, gera a inveja. Ambos sentimentos levam à discórdia. Não há discórdia entre membros sentados e mebros de pé, mas sim a discórdia dos próprios membros de pé que, ao invés de lutarem juntos por uma solução viável e que venha a curto prazo, digladiam-se entre si para tomarem o lugar do primeiro que deixa o assento vago.
Certa feita, eu, como bom usuário dos coletivos, entrei no ônibus notando que não havia mais lugar disponível para me sentar e me anestesiar no mar da indiferença. Não poderia ler um livro, ouvir música ou muito menos dormir. Afoito para fazer tudo isso, resolvi entrar na guerra pelo assento. Atento, percebi os principais suspeitos que desceriam em breve do veículo. Foquei meus olhos para perto da porta de saída, local comum para quem desce logo. Não havia ninguém que eu já conhecesse de vista e, devido a viagens anteriores, sabberia previamente que desceria em poucos minutos. Percebi uma garotinha e a mãe da mesma. Bingo! Essas não demoram muito dentro de ônibus. Cheguei perto, o assento seria meu assim que elas descessem. Uma senhora chegou ao meu lado. Não reclamei, uma vez que eram duas passageiras que desceriam. Haveria lugar para ambos. Solidarizei-me com a senhora e até pensava em conceder-lhe o lugar à janela.
A mãe olha para a senhora e pede para a filha sentar em seu colo, dando lugar para a primeira. Ainda não era um problema. A senhora sentaria e logo seria minha vez.
Não seria um problema até o momento em que a mãe disse "Senta aqui, senhora. A gente já vai descer logo."
Como um relâmpago, sem nem que a senhora tivesse sentado, uma mulher que beirava seus quarenta anos chegou ao meu lado ocupando o lugar onde a velhinha estava de pé. Não só ocupando como também me empurrando com o braço, tirando-me da minha posição original. Aquele braço na minha frente, me afastando, como se eu fôsse um incômodo.
Ainda tinha certa gota de esperança, mas esta secou assim que mãe e filha desceram do assento e a mulher-braço conseguiu realizar seu intento oferencendo-se ainda para segurar minha mochila, a qual sempre deixo no chão para que não peçam para segurar.
Descobre-se que ainda temos muito a aprender com a vida, mas ainda sonho que um dia, todos poderão sentar-se nos ônibus, sem distinção ou preconceito.